segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O MELHOR DISCURSO...

... foi o do rei! Das 12 nomeações só venceu 4, mas nas principais categorias de melhor argumento original, realizador (Tom Hooper), actor principal (Colin Firth) e filme.
James Franco e Anne Hathaway apresentaram a 83ª cerimónia dos Oscar no Kodak Theatre, que não trouxe grandes surpresas: o nonagenário Kirk Douglas a entregar a estatueta à melhor actriz secundária foi uma delas, o agradecimento de Melissa Leo, que soltou um palavrão em palco, foi outra; Christian Bale também vencedor do Oscar como actor secundário, afirmou que não iria repetir a F bomb da sua companheira de elenco em "The Fighter"; Billy Crystal fez uma bem humorada introdução a Bob Hope, que por sua vez "chamou" outros apresentadores ao palco (virtualmente, como é óbvio, que o actor completou os 100 anos, 18 dos quais a apresentar os Oscar, mas já morreu há alguns anos); o filme dinamarquês "In a Better World" foi prestigiado com o galardão de melhor estrangeiro.
Natalie Portman não foi novidade como melhor actriz, "Toy Story 3" como melhor desenho animado também não. "A Origem" conseguiu 4 estatuetas em categorias técnicas (fotografia, efeitos especiais, mistura de som e montagem sonora), enquanto "A Rede Social" levou para casa o melhor argumento adaptado, banda sonora e montagem. A "Alice no País das Maravilhas" couberam os prémios da direcção artística e de guarda-roupa.
Apesar desta vitória parcial d' "O Discurso do Rei", o discurso mais destacável da noite foi o do vencedor do melhor documentário de longa-metragem, "Inside Job - A Verdade da Crise", que declarou sem papas na língua: "desculpem, mas tenho de começar por focar que após 3 anos de uma horrível crise financeira, provocada por grandes fraudes, ainda nenhum executivo financeiro foi preso. E isso está errado!" Aplausos da plateia e meu, no sofá cá de casa!

Imagem da net.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

INDOMÁVEL

É uma coboiada? É! É violento e tem vários tiroteios? É e tem, ou não fosse realizado pelos irmãos Coen. O remake traz alguma coisa de novo ao filme protagonizado por John Wayne, de Henry Hathaway, em 1969? Não me lembro se vi o primeiro, de modo que não tenho termo de comparação. 
A história gira em torno de Mattie Ross (Hailee Steinfeld), uma rapariga de 14 anos determinada em encontrar o assassino do seu pai: Tom Chaney (Josh Brolin), a quem este tinha contratado para o auxiliar num transporte de cavalos. Numa terra em que o xerife não tem mãos a medir, o assassino parte impunemente, mas ela está resolvida a encontrá-lo e para tal promete uma recompensa a um ex-xerife bêbado mas conhecedor da região, Reuben "Rooster" Cogburn (Jeff Bridges), para o capturar e entregar à justiça. Acontece que o Ranger LaBoeuf (Matt Damon) também anda a perseguir o mesmo sujeito, por ter assassinado um deputado no Texas. E lá partem todos à desgarrada em busca do mau da fita, que entretanto se juntou a um bando de malfeitores, só para complicar mais a coisa...


Sem dúvida uma excelente interpretação de Bridges, que  dá corpo e voz roufenha e entaramelada ao típico xerife-cowboy beberrão e duro do nosso imaginário do faroeste. Julgo ser o único a sobressair no elenco.  
Vê-se bem! Mas não deixa de ser uma coboiada...

E pronto, agora estou preparada para assistir à noite dos Oscares:  tchan, tchan, tchan, tchan!!!
 
Imagem de cena do filme da net.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A EMOÇÃO, A ANSIEDADE, A INCERTEZA...

... de todos os candidatos ao Oscar, nas diversas categorias, deve ser enorme, a poucas horas do maior evento da indústria cinematográfica americana. Ou, pelo menos, foi essa a ideia com que fiquei já há muitos anos, ao pesquisar uns arquivos na Cinemateca, em que constava a seguinte história (da qual não lembro as fontes, nem certamente a seguirá à risca):
Nas vésperas de uma cerimónia da Academia, Alfred Hitchcock encontrava-se muito agitado, pelo que a sua mulher o acalmou com as seguintes palavras: "Não te esqueças que foi essa mesma Academia que atribuiu o Oscar [por duas vezes consecutivas] a Luise Rainer!" E ele sossegou. 
Porquê? Luise Rainer terminou a sua carreira no cinema prematuramente, aos 29 anos de idade, tendo depois disso participado apenas em mais três filmes (o último dos quais em  1997).  Mais tarde, na sua auto-biografia, escreveria: "Os estúdios tinham a impressão que contratar uma actriz que tinha ganho dois Oscares era motivo bastante para lhe dar os piores papéis". Tem actualmente 101 anos.

Quantos Oscar(es) ganharam? Luise Rainer ganhou o Oscar de melhor actriz em 1936 e 1937; Alfred Hitchcock foi nomeado para melhor realizador seis vezes, mas nunca ganhou nenhum Oscar, ao longo dos mais de 50 anos da sua produtiva e criativa carreira na sétima arte; contudo, foi agraciado com o prémio Irving G. Thalberg em 1968, pelo conjunto da sua obra (entregue durante a cerimónia) e, pouco antes de morrer, a Rainha Elizabeth II concedeu-lhe o título de Sir;
Confesso que não sabia quem ela era antes de ler essa curiosidade. Sobre a qual já escrevi aqui, noutro contexto. E este ano, como será? (cá por mim aposto no "Discurso do Rei", sem stress nenhum, mas sintam-se à vontade para dar outros palpites!)
Para já, espero apenas que todos sejam contemplados com um...
FELIZ FIM DE SEMANA!!!

Fotografia da net.

ADENDA a 26/02/2011 - todas as palavras acrescentadas a cinzento.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

ALARMISMOS...

... é no que dá!
O Kim sugere que não elogiamos suficientemente familiares, amigos, colegas, empregados, em suma, quem merece. E tem razão! Daí o meu grande elogio a Jim Davis, por nos ter fornecido tantos momentos de boa disposição!
E de caminho também à Teresa (Ematejoca) que adivinhou todos os filmes do post anterior. OK, o desafio era bastante fácil, mas o que eu não imaginava é que fosse a primeira a comentar, embora suspeitasse que para ela fosse canja...
Inté! (não sei se amanhã haverá tantos elogios!)

7 FILMES DA MINHA VIDA

Alguns são clássicos do cinema, outros são mais recentes. Note-se que são apenas sete  por uma questão de espaço, porque a lista de preferidos é extensa, quem sabe se não surgirão outros numa próxima oportunidade?

Então agora que os Oscar(es) estão prestes a ser entregues (já na próxima madrugada de segunda-feira, dia 28), é boa altura para recordar os sucessos de outros tempos.

Compete-vos adivinhar os títulos de cada um destes filmes. Claro que estes são bem fáceis - incluem clássicos e tudo - numa próxima postagem sobre o tema será mais complicado! Eheheh!

O mais antigo é de 1939 e o mais recente de 2006. São todos americanos, excepto um que é uma co-produção entre os EUA e o México.
Os actores também dispensam apresentações, se não for pelo filme que eventualmente podem não ter visto (não se vê tudo, para além que anda por aí muita juventude), chegam lá através dos seus nomes.  Apenas um(a) não seguiu carreira na sétima arte, mas não deixa de ser mundialmente famoso(a)!

Só um dos filmes é originalmente a preto e branco, todos os outros são a cores. Apesar das fotografias...

Aguardam-se bons palpites!

Imagens da net.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ENTÃO... QUEM É QUE SABE?!

Quando as televisões privadas surgiram em Portugal a expectativa era que trouxessem mais variedade e animação às programações então pouco imaginativas da RTP. E trouxeram, em parte, mas juntamente com muito telelixo (palavra que ficou famosa, por ter determinado o despedimento de João Carreira Bom como cronista do "Expresso"): quando se julgava que não podia haver pior, surpreendiam-nos sempre com mais. E continuam a surpreender, se bem que a televisão por cabo também se esmera nesse capítulo. As americanices conseguem bater todos aos pontos, sem margem para dúvidas!
Se o ridículo matasse, este "Não sabia que estava grávida"  nunca teria sido concebido, muito menos veria a luz do dia. Que é como quem diz, nunca entraria pelas nossas casas adentro através de um ecrã. Começa com um aviso que pode ter imagens chocantes para pessoas mais sensíveis. OK, a malta aguenta! E depois repete a mesma história até à exaustão, alterando apenas as variantes de cada caso: uma que passou o tempo todo a tentar emagrecer após a primeira gravidez, sem grande sucesso; outra que tomou um remédio que lhe cortou o efeito da pílula; uma terceira porque o teste lhe deu negativo; etc., etc. e tal. Todas um bocado distraídas, mas pronto, pode acontecer.
O que é que não podia acontecer nesses programas? Pois, que filmassem as cenas do parto, né? Então se elas não sabiam e julgavam estar com uma dor de barriga ou uma apendicite, alguém ia filmar? Mas não! Aparece a cena toda de uma a expelir o bebé na sanita (leram bem!), doutra na banheira, de uma terceira a entrar num hospital, de médicos atrapalhados perante a situação e a ligarem aparelhos, delas aos gritos, dos maridos assustados, crianças ensanguentadas, cordões umbilicais, toda a parafernália da praxe. Como? Só resta uma explicação:  desejosas que aquele momento se eternizasse e fosse dado a conhecer ao mundo, resolveram recriar cada segundo desse sofrimento angustiante perante as câmaras! Actuando como actrizes no próprio filme, em parceria com companheiros, familiares, médicos (ou outros por eles) e, claro, produtores televisivos desejosos de conferir autenticidade às imagens. O que não se faz por 5 minutos de fama?!
 
Imagem da net.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

EXPULSA DO CONVENTO!

Maria Jesús Galán não era uma freira como outra qualquer: quando lhe pediram para organizar o arquivo da biblioteca do convento, achou que a tarefa seria mais fácil com um computador. Deram-lho e ela concretizou o pedido em tempo tão útil que até recebeu um prémio de mérito das entidades regionais. O que não agradou nada lá às restantes freiras de Santo Domingo, em Toledo - Espanha, pois passou a ser conhecida como "Irmã Internet" por também ter aderido ao Facebook, onde encontrou centenas de amigos. Nem à hierarquia eclesiástica de Toledo, que resolveu expulsá-la ao fim de 35 anos de serviços em nome da Igreja. Explicações? Nenhuma!
Assim, aos 54 anos regressou a casa da mãe, anda à procura de emprego compatível para as suas qualificações e... multiplicou os seus amigos internautas de centenas para milhares! Segundo consta, afirma que não está especialmente preocupada: "Nasci feliz, vivo feliz e morrerei feliz!"  E está disposta a viajar e conhecer o mundo...
Acho graça a estas invejas conventuais, que trocam o mel com o fel nos ingredientes da doçaria. Coisa para Gordon Ramsay esganar alguém. A Igreja Católica não precisa, determinada em dar tiros no próprio pé ou... em suicidar-se!

Imagem da net.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CISNE NEGRO

Há filmes que não têm meio termo: ou se amam ou se odeiam! Este é um deles e... odiei! Ao contrário de muitos amigos, que sobre ele disseram ou escreveram maravilhas, especialmente no que toca à protagonista, Natalie Portman. Salvo duas excepções!
Não contesto que a actriz faz um papelão: uma bailarina tímida e insegura, que ambiciona a perfeição, mas, simultaneamente, sofre de graves problemas psicológicos e psiquiátricos - anorexia, auto-mutilação (arranha-se a si própria com as unhas), mania da perseguição e alucinações. Para além da sua indefinição sexual, de uma mãe super-protectora a reviver nela os seus próprios sonhos de juventude e de um director crítico, exigente e mulherengo, a situação agrava-se quando é destacada para desempenhar o papel principal numa nova versão coreográfica do "Lago dos Cisnes". A partir desse momento baila de alucinação em alucinação, em pontas de terror, no pesadelo constante de ser substituída por Lily, colega de companhia e teoricamente mais sedutora e apta para desempenhar o cisne negro...
Bom, é verdade que não sou grande apreciadora de bailado, mas não foi por aí que não gostei do filme. Independentemente até de algumas cenas iniciais, em que a câmara parecia estar às cavalitas do cameraman a seguir a bailarina Nina, num balançar aparentemente amador e estonteante. Se a intenção do realizador Darren Aronofsky era enveredar pelo fantástico, exagerou nos "fantasmas", na violência, no sangue, sem qualquer ritmo de suspense, só de susto! Inovador? Pode até ser, mas nem todas as "invenções" cinematográficas são boas e, pior ainda, dificilmente se entende o que é real ou imaginário!
Espreitem o trailer


Claro que esta é apenas a minha opinião, neste caso contrária à da maioria. Mas também nunca tive a intenção de forçar opiniões alheias, portanto sintam-se à vontade para discordar...

Imagem de cena do filme da net. (atenção que os "olhos vermelhos" não são devidos ao amadorismo do fotógrafo...)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

VESPAS

Dizem os entendidos que as vespas se distinguem das abelhas por serem mais delgadas. Daí a expressão "cinturinha de vespa", coisa que quase todas as mulheres almejam e... poucas conseguem! Mas afinal de contas, essa cintura mais elegante torna-nos mais sedutoras? Nunca fiando, porque nem todos os machos são iguais, como o prova este vídeo (com O para as pessoas sensíveis):


BOM FIM DE SEMANA!
(longe de vespeiros, de preferência!)


(Gracias, Michel!)
Imagem da net.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

A MÁ-LÍNGUA CHEGA ÀS RUAS?!

Um grupo de "amigos e admiradores" de Carlos Castro vai propor à CML que seja dado o seu nome a uma rua de Lisboa, segundo o semanário "Sol". Ahn, como é que é?! Então ainda recentemente a CMP rejeitou a inclusão de José Saramago na toponímia do Porto - muito controverso e discutível, porque afinal de contas foi o único português laureado com o Nobel da Literatura - e na capital querem impingir-nos Carlos Castro?
Nem contesto que os amigos tenham ficado chocados com o seu homicídio - isso é óbvio e evidente! Mas, quer dizer, deviam ter o mínimo discernimento para perceber que não fez nada de tão memorável em vida que o destacasse dos demais cidadãos. Nem jornalista era, nas suas crónicas em revistas cor de rosa exagerava nas insinuações de "se eu dissesse o que eu sei" ou do "cala-te boca", muitas vezes sem sequer ter a frontalidade de indicar o nome das personagens alvo desses boatos, má-língua ou ódios de estimação. Circulava em meios da moda, televisivos e alguns culturais, entre amigalhaços daquele jet-setzinho tuga que se farta de papar croquetes em múltiplos eventos, onde a sua presença era bem vista, pois era sinal que na sua coluna iria traçar rasgados elogios ao acontecimento. Feiras de vaidades, onde as trocas de "favores" são uma constante. Nem consta que tivesse mais admiradores, para além desses. Claro que nem por isso, e  muito menos por ser assumidamente gay, merecia ser assassinado - ninguém merece!  
Agora nome de rua... tenham dó!!!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

ATÉ À ÚLTIMA GOTA

Fotografia de Ian Britton

Este país não é para velhos, atirados para lares onde muitas vezes são esquecidos pelos familiares ou a morrerem na solidão das suas casas, sem que quase ninguém note a sua ausência (e mesmo os poucos que reparam, são  ignorados pelas autoridades competentes).
Este país não é para recém-licenciados, que depois de terminarem os seu cursos procuram um emprego digno e compatível: com sorte, arranjam um estágio mal remunerado, onde executam trabalho por três ou mais funcionários, polivalente e com horário rígido de entrada, mas sem ele para a saída; com azar, nem isso ou sem salário nenhum, mas com as mesmas exigências de "aprendizagem" dos restantes.
Este país não é para trabalhadores experientes de meia idade, constantemente despedidos em remodelações empresariais - reduzem-se efectivos, substituem-se pelos tais estagiários que saem muito mais baratos, quando não a custo zero. E rapidamente também eles próprios substituídos numa próxima leva...

Este país não é para jovens que queiram começar cedo uma vida a dois e constituir família, que vêem os seus projectos constantemente adiados, quando não mesmo gorados. Isto para aqueles que ainda se atrevem a sonhar e que desejam manter-se fiéis às suas raízes.
Então este país é para quem? A tentação seria dizer ninguém, mas não é exactamente verdade. É para todos aqueles que se movimentam pelas leis do cifrão e da alta finança, que não olham a meios para atingir os seus objectivos: enriquecer mais e mais e controlar o poder!  O que conseguem - dada a natural subserviência  de políticos e governantes, sedentos de agradar aos verdadeiramente poderosos, sem prestar atenção ao povo  que os elegeu para o representar -  por meios contratuais e legais ou  até, por vezes, estratagemas criminosos, dos quais invariavelmente se safam impunes.
Ignorar as dificuldades e ansiedades de todo um povo, esmifrado até à última gota do seu sangue, suor e lágrimas e sobrecarregado por impostos sem contrapartida à vista, é um erro! Brandos costumes também têm limite e as revoluções, essas, andam nas ruas...

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O DISCURSO DO REI

"The King's Speech" retrata as dificuldades de um homem gago em discursar publicamente, quando ainda nem sequer pensava que podia vir a ser rei, como veio a acontecer. Claro que não era um homem qualquer, era filho do rei Jorge V de Inglaterra e irmão do sucessor ao trono, Eduardo VIII. Hummm... mas como é que se faz um filme em torno de uma temática aparentemente tão pouco interessante?
A resposta é simples: juntam-se dois grandes actores para interpretar o papel de gago (Colin Firth) e do terapeuta da fala (Geoffrey Rush); uma época histórica entre guerras, que mudou todo o destino da Europa, em geral, e da Inglaterra, em particular - e um rei que abdica ao trono, por amor de uma mulher divorciada, deixando-o livre para o seu irmão, que não se sente preparado para o ocupar; e a sensatez do realizador (Tom Hooper) e do argumentista (David Seidler) em não exagerar nem no drama, nem no caricato da situação.
Gostei muito, mas não fui a única, os prémios BAFTA atribuíram as melhores actuações do ano a Colin Firth (que também já tinha recebido o Globo de Ouro), a Helena Bonham Carter (actriz secundária) e a Geoffrey Rush (actor secundário, embora essa classificação seja muito subjectiva, no meu entender), para lá de melhor filme, melhor filme britânico, melhor argumento original e melhor banda sonora. Ou seja,  arrebatou  quase todos os galardões mais importantes - faltou o de melhor realizador, entregue a  David Fincher, e o de melhor actriz, que foi para Natalie Portman.
Espreitem o trailer do "discurso":

Agora é esperar até dia 27 de Fevereiro, para verificar se os Oscar premeiam o filme inglês ou preferem a prata da casa...

Imagem de cena do filme da net.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

SEM DIA MARCADO

Fotografia de Ian Britton

Namorar é bom, mas é como o Natal: sempre que o homem e a (respectiva) mulher quiserem! Considero que há dias a mais disto e daquilo, que acabam por passar desapercebidos num calendário tão preenchido, o dos namorados não me parece o mais disparatado de todos - há da mãe, do pai, dos avós, do animal, do livro, da poesia, da música, do teatro e tantos outros, porque é que não haveria dos namorados? Talvez a data em si seja controversa, já que consta que foi a da decapitação do São Valentim (isso se acreditarmos nessa personagem lendária do século III), mas os românticos agradecem. E os comerciantes também...
Em abono da verdade, só uma vez comemorei a data. Primeiro, porque quando era rapariga "namoradeira" ainda essa "tradição" não tinha chegado a Portugal; segundo, devido a uma coincidência - os meus sogros celebram o aniversário de casamento nesse dia e sempre quiseram comemorar com um jantarinho, rodeados pelos filhos e netos. Não é que simpatizasse muito com essa coincidência, mas como tínhamos muitos outros para namorar, paciência! Portanto, lá ia a família inteira jantar, enquanto a maioria das outras mesas estava ocupada por casais de apaixonados (ou não). Esporadicamente, também se avistavam grupos de mulheres (só elas), que se recusavam a ficar em casa a carpir mágoas, recentes ou antigas - faziam (e fazem) muito bem!
Mas, certa vez, o aniversário de casamento dos meus sogros foi adiado para o Sábado seguinte, pois um deles estava com gripe. Lá convenci o maridão para uma romântica saída a dois. Sem nada marcado! A ideia era ir a um cineminha ao fim da tarde e depois jantar. Não tínhamos a menor percepção da matula que fizera um programa idêntico: o filme que queríamos ver estava esgotado, mas resolvemos ir até Cascais, onde se exibia numa sessão um pouco mais tardia - aí só havia bilhetes para a primeira fila. Desistimos do cinema, passámos para o jantar. Eram filas intermináveis em todos os restaurantes, sem indicação de tempo de espera ou de coisa para uma hora ou mais. E nessa altura já estávamos os dois irritados e com fome. Resumindo, acabámos a comer umas sandoscas e a voltar para casa, alugando um vídeo de caminho, o que de romântico teve muito pouco. Nunca mais nos passou pela cabeça celebrar a data! Com tantos dias,  para quê levar um banho de multidão destes?
Este ano até já nos adiantámos com o cineminha, fomos ver "O discurso do rei" - o grande vencedor dos prémios BAFTA - mas sobre esse escrevo amanhã...
Com ou sem comemoração, DIVIRTAM-SE!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O MEU GATO PREFERIDO...

xxxxxxx

Aproveitem o FIM DE SEMANA e DIVIRTAM-SE!
...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

RAY... & COMPANHIA!

"Um filme por dia nem sabe o bem que lhe fazia" foi o título de um post do Psimento, que me deu vontade de aderir ao lema, mas já se sabe que não há tempo para tanto. Num fim de semana de gripalhada lá tentei recuperar a filmografia perdida e aproximar-me mais desse ambicioso objectivo. À falta de melhor entretenimento...
"Ray", do realizador Taylor Hackford,  dá a conhecer alguns aspectos da vida do músico americano Ray Charles Robinson, devidamente suavizados e romanceados para o grande ecrã, pois ao longo da sua existência dramas não faltaram - a morte do irmão e a cegueira, na infância, os seus primórdios musicais com alguns companheiros a tentar espoliá-lo dos lucros do seu trabalho, problemas raciais, o vício da heroína, relacionamentos com demasiadas mulheres (o filme dá a noção que ele era mulherengo, não que teve doze filhos de sete mulheres diferentes, segundo a wikipédia), o que não falta é assunto. Nem música, como é evidente! E aí o filme não será para todos, apenas para aqueles que apreciarem o seu estilo musical, que associa ritmos de gospel a R&B, jazz ou country. Mas o que sobressai mesmo é a fantástica interpretação de Jamie Foxx, que aliás lhe valeu o Oscar de melhor actor em 2005. 

"O preço da traição" ("Chloe", no original), o tal que vi no cinema, tem um argumento desenxabido e previsível: Catherine (Julianne Moore) desconfia que o marido (Liam Neeson) a trai e resolve contratar os serviços de uma acompanhante profissional (Amanda Seyfried) para o descobrir. Vem a dar numa espécie de "Atracção Fatal" em soft, com umas quantas cenas eróticas a tentar apimentar, mas nem os actores brilham. Fraquinho! 

"Being John Malkovich" é completamente non-sense: Craig arranja emprego de arquivista numa empresa de pequenas dimensões (literalmente, pois todos têm de andar curvados nos corredores, pois o tecto é demasiado baixo), onde todos os funcionários parecem falar línguas diferentes, e, por acaso, descobre um portal que lhe dá acesso a ser John Malkovich durante 15 minutos. A própria mulher depois de passar pela experiência começa a duvidar das suas preferências sexuais, mas entretanto ele e a colega Maxine resolvem fazer negócio com o portal e alugá-lo a todos os tristes que queiram vivenciar os tais minutos de fama na pele do actor. A Malkovich junta-se outro John (Cusak), Catherine Keener e Cameron Diaz - esta mais feiosa que nunca! Disparatado e absurdo q.b., mas não deixa de ter a sua piada!
Enfim, não foram os únicos que vi, mas sobre os restantes nem vale a pena  teclar...

Imagens de cenas dos filmes da net.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

PROFISSÕES DO PASSADO

Recentemente, a Teresa focou a figura do polícia-sinaleiro, que julgava já não existir pelas ruas de Lisboa, substituído por semáforos "inteligentes" que controlam o trânsito citadino. Afinal, parece que ainda existe  pelo menos um no activo, como ela refere. Coincidência, é que já tinha começado a reunir várias fotografias da net sobre diversas profissões que desapareceram ou estão em vias de extinção, tanto aqui como noutras grandes cidades do país. E na recolha dessas fotos o preto e branco prevaleceu, como marca de um passado nem sequer muito distante, mas onde ainda não imperava a cor.

Pouca gente possuía a sua própria máquina fotográfica, portanto em alguns locais públicos podiam encontrar-se fotógrafos - junto a monumentos, em jardins, em praias, em feiras, junto ao Pai Natal na respectiva época, etc. Estes estavam longe de ser profissionais, limitavam-se a retratar "instantaneamente" momentos de lazer alheios - a pedido dos interessados. Especialmente no Verão e nas praias também circulavam vendedores de gelados: "Há fruta ou chocolate!"; "É o Rajá fresquinho!"; e, sem surpresa, traziam um bonequinho de plástico de brinde, dos desenhos animados que a criançada via na TV - "Carrossel Mágico", "Bugs Bunny" ou afins. Também soavam pregões de bolos e bolas de Berlim, quase todos eles silenciados há relativamente poucos anos por uma tal de ASAE. Suponho que do mesmo não se podem queixar as varinas lisboetas, que em vez de carregarem as canastras de peixe à cabeça se mudaram para as praças há bué, onde a freguesia ainda pode ouvir "há sardinha linda!" ou "é carapau fresco!". Muito fresquinho por sinal, que por vezes até tem ar de congelado... (não é queixa, antes congelado que estragado!)

Padeiros ainda existem, obviamente, mas destes que carregavam os enormes cestos de verga de porta em porta pela vizinhança, distribuindo papo-secos ou pães de forma ou quilo ao gosto e vontade da freguesia, já rareiam. Aqui onde vivo, ainda tive uma padeira que me colocava o pão fresco no saco pendurado na maçaneta exterior por volta das 5 da manhã - "mordomia" que agradeci encarecidamente, até ela se reformar!  O mesmo se diga dos leiteiros, que também distribuíam leite de porta em porta para facilidade de todos, em bilhas ou já engarrafado, mas dada uma enorme escassez do produto também começaram a desaparecer, mesmo antes do 25 de Abril.

As encorpadas lavadeiras, de trouxa à cabeça, foram sendo dispensadas à medida que a máquina de lavar roupa foi entrando nos lares nacionais. Qual água fria da ribeira? Carvoeiros para quê, na era da electricidade? "Quem quer figos, quem quer almoçar?" - apregoavam ainda algumas vendedoras ambulantes, sem noção que já ninguém queria almoçar figos - uma sandosca à pressa num qualquer tasco substituía melhor a refeição. Pois!

Criadas fardadas a rigor? Marçanos? Engraxadores de sapatos? Ardinas, aqueles putos que corriam desalmadamente as principais ruas da cidade para vender jornais? Há profissões que não voltam mais e, por um lado, ainda bem: mal pagas, sem qualquer espécie de benefício, muitas vezes utilizando trabalho infantil. Mas que a memória (e o corpo) de alguns não esquece, lá isso...

Limpa-chaminés, quando os exaustores estão na moda? Ferros-velhos que recolhem garrafas, jornais e outros materiais usados sem valor, se há ecopontos onde os depositar? Amoladores ou funileiros para quê, quando se deitam facas rombas ou tachos furados para o lixo e guarda-chuvas de varetas partidas nem chegam lá, porque são abandonados no caminho? Mas por mais que nos pareça que rumamos para o futuro, ainda um dia destes ouvi o som característico de um funileiro (presságio de chuva, afirmava a voz popular), mas a gaita é que lembrou que quando os ventos mudam, algumas coisas voltam... 

Todas as fotografias são da net, a última é de autoria de Eduardo Gageiro.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

ESTE LUGAR É MEU!

Bem me apetecia que fosse, assim um lugarzinho à beira-mar, em tempo de férias, mas por enquanto essa é apenas uma doce ilusão, o caso é outro...
Uma tarde destas fui ao cinema com a minha mãe (o filme não era grande coisa, portanto ficará para outro post), num pequeno centro comercial longe das salas mais movimentadas do centro da cidade, escusado será dizer que havia muito pouca gente a assistir à sessão, nem os lugares eram marcados.
Fomos as primeiras a entrar, como quase sempre escolhi uma coxia na última fila, mas a minha mãe ainda estava hesitante e foi andando mais para a frente. A sala vazia, eu postada nas cadeiras que escolhera, a minha mãe a voltar para trás e oiço atrás de mim uma voz:
- A senhora deixa-me passar?
Olhei para a mulher intrigada, porque espaço era o que não faltava e o filme só começava uns 10 minutos depois, mas esperei que a minha mãe tirasse o casaco e se sentasse na cadeira ao meu lado. Preparava-me para me sentar também, quando a criatura exclamou com alguma desolação:
- Ah, esse lugar era meu!
Nem lhe respondi, mas o meu olhar de se-és-maluca-o-melhor-é-ires-tratar-te deve ter sido suficientemente elucidativo, que ela acrescentou, como se me desse uma grande benesse:
- Não faz mal, vou para o outro lado!
E lá saiu apressada, para ocupar "o outro" lugar dela, no outro extremo da mesma fila...

Imagem da net.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

O ELO MAIS FRACO?

Odeio injustiças! A Operação Triunfo 2010 foi pródiga em evidenciar uma quantidade delas, no pequeno ecrã. Não sei se o concurso tinha limite de idade, mas sendo o prémio final uma bolsa de estudos na Berklee Collegue of Music de Boston, é de supor que visava concorrentes ainda jovens.
Dos 15 finalistas apurados inicialmente dois já ultrapassavam a barreira dos trinta anos, enquanto a maioria estava por volta dos 18/20. Mas se os aceitaram, eram concorrentes como os outros, certo?! Errado! Júri e professores conluiaram-se nas suas preferências por (alguns) putos mais novos, chegando ao cúmulo de os safar da nomeação para saída "por se tratar(em) do elo mais fraco". Mais fraco(s) na prestação musical, note-se! Ou que alguns já tinham aproveitado uma vasta aprendizagem (na escola), deviam dar "espaço" aos outros...
Assim, Jorge Roque, com a "provecta" idade de 32 anos, andou quase sempre na berlinda das nomeações. Desde a boina que usou na primeira gala - ui, ui, haveria tanto a dizer dos "modelitos" que Sílvia Alberto trajou... - passando pelo "és capaz de fazer melhor!", até aos restantes destemperos enunciados, tudo serviu! Nem o facto de ter presença em palco, uma grande versatilidade para cantar géneros musicais tão diferentes como jazz, rock ou fado (que muitos dos outros candidatos claramente não possuíam) ou até a rara capacidade de atingir um timbre de voz semelhante ao dos cantores originais (muitas vezes, para melhor!), o beneficiou junto do júri ou professores. Felizmente, o público não foi em cantigas e percebeu que quem canta assim Frank Sinatra não é gago:


Jorge Roque ganhou e foi o justo vencedor! E se bem que todos os candidatos fossem talentosos (uns mais que outros, obviamente!), não se entende o que um júri desta laia estava lá a fazer: falava muito, dizia pouco e acabava sempre nas "embirrações" ou preconceitos do costume...
Isto para dizer o quê, uma vez que o concurso já terminou há duas semanas? Que o que se espera de QUALQUER júri (e de professores também) é que seja isento, imparcial e justo! É pedir muito?

Fotografia da net.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

200 ANOS DE EVOLUÇÃO

Já se sabe que as estatísticas valem o que valem - se um homem come dois bifes e outro não come nada, estatisticamente cada um come um bife - mas a verdade é que são importantes para estabelecer aspectos da realidade que nos rodeia e traçar planos e objectivos futuros, eventualmente corrigindo erros ou injustiças mais flagrantes.
Recentemente recebi este vídeo por e-mail (obrigada, Michel!), em que Hans Rosling - médico e professor universitário sueco - explica graficamente a evolução de 200 países, em 200 anos, em pouco mais de 4 minutos, num programa da BBC. Mais esclarecedor é impossível:


E como entretanto está a chegar mais um fim de semana, aproveitem e

DIVIRTAM-SE!!!

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

UM BOM COELHO?!?

Fotografia de Ian Britton

Segundo a astrologia chinesa, começa hoje o ano do Coelho, que vem substituir o do terrível e agressivo Tigre. E as previsões do novo signo regente são fantásticas: paz, harmonia, felicidade, evolução, progresso, um autêntico paraíso na Terra!
Não sei porquê, estou muito céptica em relação a esse futuro glorioso! Não é por pessimismo, até porque  sou um optimista convicta. Mas tanta facilidade assim? Muda o ano chinês e reina a calma e alegria? Pois, estou mesmo a ver...
Mas dêem-me um bocadinho de música, que até gosto:


Com ou sem coelho (e não me refiro àqueles dos tachos), a esperança num mundo melhor prevalece! Sem eclipses, que já fartam...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

COZINHA... INFERNAL!!!

Se há assunto que me prende a atenção, no zip zap do comando da TV, culinária é um deles: papo todos os programas, portugueses ou estrangeiros! Claro que alguns são vocacionados para as refeições rápidas do dia a dia - o que já me ri com a Nigella Lawson, que nem picar cebola sabe - outros para os pratos regionais (João Carlos Silva era um mestre do improviso "Na roça com os tachos"), talvez a maioria mais inclinada para a cozinha tradicional de cada país, mas certo é que se aprendem sempre alguns truques com todos eles. Embora nem sempre cresça água na boca...
Portanto, o que faltava era mesmo um programa sobre gastronomia, 'haute cuisine' ou como lhe queiram chamar, embora a probabilidade dos grandes chefes revelarem os seus segredos seja reduzida. Ou nula. O que até se compreende, pois é assim que eles ganham para o tacho!
Então, um dia destes, apanhei um episódio de "Hell's Kitchen" na SIC Radical. Vários chefes num concurso gastronómico? "Promissor!", pensei já a salivar. O que se seguiu, não tem semelhança nenhuma com qualquer programa televisivo, havido ou por haver: resumidamente, diria que é um concurso de terror para cozinheiros ambiciosos de tendências masoquistas e/ou sádicas! Querem mais original?!
Gordon Ramsay - um grande chefe escocês, co-proprietário de uma cadeia de restaurantes de luxo a nível mundial e coordenador de uma vasta equipa de cozinheiros de gabarito - ajuíza a prestação dos candidatos com uma mão de ferro, direi mesmo tirânica. Ele grita, insulta, provoca, ofende, goza e castiga todos, enquanto parte pratos e manda panelas pelo ar, numa agitação e irritação constante. De vez em quando também elogia algum e premeia as equipas vencedoras de cada desafio, numa nítida tentativa de incentivar os conflitos. O que consegue sem dificuldade, já que os concorrentes são igualmente egocêntricos, narcisistas e arrogantes, numa espécie de fotocópia do líder.
E afinal o que se aprende de gastronomia? NADA! As câmaras preferem mostrar as reacções estampadas nas caras de professor, alunos ou dos júris/convivas à mesa, do que propriamente a confecção dos pratos ou os movimentos em redor dos fogões! Quer dizer... ensina a ser um ditador na cozinha, mas isso interessa a alguém?

Imagem da net.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

NA BOCA DO LOBO...

Não me querendo repetir, mas já me repetindo, vou relatar o episódio que aconteceu no liceu D. Pedro V, algures lá para o ano lectivo de 1972/73, quando foi cercado pela PIDE/DGS. OK, tinha apenas 13 ou 14 anos, mas há momentos que ficam para sempre gravados na nossa memória!
A minha turma tinha aulas no turno da tarde, no pavilhão A4. Este era o mais distante das salas de convívio e de professores (e o intervalo de 10 minutos curto para ir até lá), mas no início dessa tarde notava-se alguma agitação no ar: constava que uns estudantes do Técnico estavam dentro da escola. De princípio nem ligámos muito, mas logo se propagou que estavam a ser  perseguidos pela PIDE/DGS e aí já quase todos adivinhávamos problemas, mesmo com poucas ou nenhumas noções de política.
A campainha tocou para a entrada e os professores demoraram bastante a chegar, mas lá avistámos a nossa de português, convenhamos que com alívio - tinha a alcunha de "drogaria ambulante", devido às maquilhagens carregadas que usava habitualmente, mas mesmo assim estava notoriamente pálida. Mas pelo menos teve a coragem de ir à aula, o que não aconteceu com outros. O pavilhão A4, além de isolado atrás do ginásio, tinha uma vista privilegiada para a rede de arame que dividia a escola dos terrenos baldios limítrofes e, lá no fundo, tinha uma escapatória (buraco na rede) utilizada por todos os alunos que queriam sair, sem passar pelo portão. 
Sem nos apercebermos do porquê, de repente, começámos a ver colegas de outras turmas a fugir esbaforidos, para a única alternativa que conheciam. Mas nós, que estávamos dentro da sala, conseguíamos observar a barreira de homens que entretanto se formara e circundava a escola e o modo como recebiam ou iam ao encontro dos fugitivos "suspeitos": ao murro e à cacetada! Tentávamos avisar pelas janelas para não fugirem, mas a desorientação de todos era enorme! A professora já tinha trancado a porta da sala, por via das dúvidas, com um "aqui ninguém entra!". E se o pânico estava instalado lá fora, dentro várias raparigas também choravam, algumas quase histéricas. Alguém teve a ideia de cantarmos. E cantámos, enquanto assistíamos, impotentes! Às tantas a professora lembrou-se que podíamos ser confundidos com rebeldes e calámo-nos imediatamente! Depois contaram-se anedotas, embora ninguém tivesse vontade de rir. A campainha tocou novamente para intervalo. Apesar das "distracções" os choros continuavam. Mas saímos da sala com "normalidade", tal como a docente recomendou, sossegados e colados às paredes. Tocou outra vez! A aula era de matemática e a professora chamava-se Laura Galo. Não deu abébias nenhumas a mais choradeiras, voltámos ao glorioso mundo das equações...
No dia seguinte, alguns dos nossos colegas ostentavam sinais da violência que foram alvo - nada de muito grave, umas poucas cabeças partidas e umas tantas nódoas negras a mais. Não chegaram a ser detidos ou presos, nem levaram a carecada reservada aos verdadeiros activistas: a maior parte dos coitados nem tinha nada a ver com aquilo, eram apenas putos de 13 ou 14 anos!
Evidentemente, nada disto foi noticiado na época! Mas, acreditem ou não, aconteceu realmente...