domingo, 31 de outubro de 2010

AS FOGUEIRAS DA INQUISIÇÃO

Mesmo não apreciando livros ou filmes de terror, abro uma excepção para romances históricos. Por mais gloriosa e feérica que a História nos possa parecer, há sempre algo que nos escapa sobre a vivência dos nossos antepassados, nomeadamente os múltiplos e tenebrosos julgamentos que a Inquisição levou a cabo em Portugal (e também em Espanha, Itália e vários outros países europeus), implantada por D. João III e que perdurou durante cerca de dois séculos, atirando para as fogueiras todos os suspeitos de heresia. E é o tema deste livro de Ana Cristina Silva  - simplesmente aterrador!
Assim, ao longo de 186 páginas encontramos Sara de Leão que, acusada de apostasia (abandono da fé cristã), se vê encerrada numa masmorra de Évora durante largos meses. No silêncio e escuridão do cárcere recorda a história da sua família judia, que após fugir de Sevilha durante o reinado dos reis católicos (D. Isabel de Castela e D. Fernando de Aragão), se instala em Alenquer. A sua avó, Ester Abecanar, então com apenas 4 anos de idade, teria sido posteriormente baptizada como cristã-nova, com o nome de Ester Baltasar, mas mesmo assim as perseguições não cessaram na amarga diáspora do povo judeu.
"Quanto às cabeças das gentes do povo, acontecia-lhes o mesmo que aos estômagos: ambos vazios há demasiado tempo, devoravam com idêntica intemperança alimentos podres e ideias feitas. Com a mesma voracidade com que saciava o bandulho com tubérculos e raízes, enchiam-se as cabeças de ignaras superstições sobre os judeus, os infiéis e as temíveis feiticeiras. Tudo isso porque, como sempre, tinham de se atribuir todas as adversidades do mundo a alguém, e os marranos vindos de Espanha, feitos cristãos tão à pressa, pareciam naturalmente culpados."
Apesar de aterrorizada com os constantes massacres, a família de Sara cumpria em segredo os rituais da sua fé, enquanto - conjuntamente com o poderoso comerciante Francisco Mendes e a sua jovem mulher Beatriz Luna*, "o espírito ou a alma daquela a quem um dia os judeus da Europa chamariam a Senhora, ainda não era mais do que um perfume, mas já se fazia sentir intensamente no ar" -  congeminava esquemas para fazer sair de Portugal todos os perseguidos pela Inquisição. A que nem o médico da corte escapara "por causa da sua inclinação pelos astros e pela incerta ciência dos seus presságios", que se revelaram sinistros no futuro do príncipe herdeiro, que veio a falecer, o que foi encarado pelos soberanos como um prenúncio "daqueles sacrifícios mágicos de que as feiticeiras e magos detinham a especialidade", nem o historiador e humanista Damião de Góis, cujas crónicas não agradaram a todos.
Resumindo, a escritora entrecruza personagens reais e ficcionais neste romance, tendo a odiosa figura do Inquisidor o papel de representar a hipocrisia e a pérfida crueldade vigentes na Igreja da época. Ao folhear as páginas deste livro folheamos também um passado histórico, que não se resumiu à epopeia dos Descobrimentos! Daí ter gostado, embora simultaneamente seja deprimente constatar o que o Homem foi (e é) capaz de fazer em nome da religião... 

* Beatriz Luna era o nome cristão desta mulher, nascida em Portugal em 1510, que após ter sido perseguida por vários países do continente europeu se instalou em Constantinopla, onde finalmente pôde professar a sua religião abertamente, voltando a usar o seu verdadeiro nome judaico: Grácia Nasi. O facto de ter herdado uma enorme fortuna do seu marido, aguçou ainda mais o apetite dos seus perseguidores!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

NAVEGAR A TODO O PANO?!

Definitivamente, o Facebook não é a minha praia! Ainda pasmo por tanta gente se dedicar à lavoura (virtual), à incompreendida vocação de disco-jokey sonhada na juventude, à azáfama de assinar todas as causas existentes no planeta, ao "espírito jornalístico" de divulgar inúmeras notícias saídas nos jornais, ao ternurento desfiar de corações, abraços, flores, smiles e sei lá que mais em trocas abundantes, além da sempre presente publicidade, quer a negócio próprio ou alheio. O resultado? Salvo raras excepções, uma valente estopada...
Também há quem relate o seu dia a dia, passo a passo: "Bom dia, pessoal!"; "Cum raio, será que vai chover?"; "O meu chefe é chato..." (esta não convém, MESMO!); "Iupiii, vou jantar com o meu amor!"; "Raispartam o chefe dele, cainda é mais chato co meu  e obrigou o gajo a fazer noitada!"; "Vou pró ó-ó. Fiquem com este som! (e segue-se uma banda de rock da pesada, de causar insónias a qualquer um...)
Claro que aparecem algumas cenas engraçadas - o problema é descobri-las, perdidas no meio de toda esta parafernália. Nem vale a pena referir as alterações constantes da página e respectivas travadinhas na "fase experimental", das torrentes de correntes, do póker que já nem permite ganhar ou enviar prémios:: CHEGA!!!
Ah e tal, que vou desistir? Não! Mas há coisas melhores para fazer na vida e esta moda, para mim, já deu o "pano para mangas" que tinha a dar.
Com ou sem Facebook, aproveitem o fim de semana prolongado e...  

DIVIRTAM-SE!

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

BOA IDEIA!


Snoopy, és um herói!

E por falar em BD, o 21º  Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora está em curso até ao próximo dia 7 de Novembro, no Fórum Luís de Camões, espero ter oportunidade de o visitar no próximo fim de semana. Quem sabe não nos encontramos por lá?

(Obrigada, Tons de Azul!)
Imagem partilhada no Facebook.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

ATRAVÉS DAS VOSSAS PALAVRAS...

... pintou-se um novo quadro do nosso país, que em vez de retratado a negro como tem sido comum ultimamente, usou todas as cores da paleta: "uma extensão de costa com excelentes praias, com um sol luminoso e areias finas, rodeadas de bonitas paisagens", asseverou Carlos II. E se as praias geraram um consenso quase unânime, acrescentando a Ematejoca serem "as mais bonitas da Europa", as lindíssimas paisagens do interior também foram referidas pela Parisiense e pelo Rui da Bica. A par de um clima ameno e soalheiro que transparece em várias descrições.
A gastronomia - a cozinha tradicional e a "comida de mesa, os bons petiscos e os excelentes doces", no relato do Rui da Bica - faz crescer a água na boca de todos: Fausto, Kim, Parisiense, Carlos II, Ematejoca e Paulofski, embora com gostos e paladares diferenciados. O Vício não esquece o vinho, que rega grande parte dessas refeições e eventuais convívios ou tertúlias, com ou sem o tanger das guitarras a acompanhar.
Num registo mais poético, Paulofski realça que o país "tem arte, bom gosto, imaginação, juventude, maravilhas, sabores, calma, beleza, sorrisos, gente, cultura, história, tranquilidade, paixão, cor, orgulho, simpatia, acolhimento..." No que é secundado pela Ematejoca, que afirma que "os nossos poetas são de primeira água". A história secular e a língua riquíssima, "falada em todos os cantos do mundo" também é focada pelo Carlos II e pelo Paulofski. Neste particular só discordo que a menção seja apenas para os poetas de língua lusa, porque também nunca faltaram grandes e prolixos escritores, pintores, inventores e múltiplos artesãos - "do nada conseguimos fazer coisas giras", assegura a Diabba. Nem excelentes desportistas, "devido ao esforço pessoal e qualidades intrínsecas", como acrescenta o Carlos II.
A simpatia dos portugueses e "a simplicidade cativante da gente das aldeias" enunciadas pelo Rui da Bica, pelo Fausto e pelo Carlos II terá excepções, mas Kim resume numa só frase: "As gentes do nosso povo são do mais puro que existe." Ainda "somos peritos na nobre arte do 'desenrasque' [...] Ao contrário do que se diz, temos óptimos crânios, pena que tenham de fugir daqui", sentencia a Diabba. Mas nem sempre alargar horizontes noutras paragens corresponde a uma fuga, mas sim a uma aprendizagem junto de mestres mais conceituados, certo?!
Esta tela foi pintada a várias mãos - as vossas (e a minha) - e o que nela ressalta não é triste, nem sequer é fado... 
 
Imagens de quadros da Maluda, da net.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O QUE TEMOS DE MELHOR?

A torto e a direito ouvimos dizer 'cobras e lagartos´ do nosso país. Nos últimos tempos ainda pior, com a tal desculpa da crise internacional e a cambada de políticos incapazes e impotentes para a resolver - mas que foram eleitos democraticamente pelo povo, o que no mínimo dá que pensar. Mas hoje isso não vem ao caso.
Não interessam fados e choradinhos corriqueiros, que abundam nos media e redes sociais até ao enjoo. Nem tem a ver com política ou economia, numa pergunta bastante mais simples: "O que é que Portugal tem de bom?" Certamente que não seremos 10 milhões de masoquistas, que calharam aqui por acaso...
Assim à partida poderia dar várias sugestões, mas não vos quero influenciar. E se de repente perceberem que temos mais vantagens do que se imagina, escolham apenas aquelas que vos parecerem mais relevantes!
Mãos ao teclado!

domingo, 24 de outubro de 2010

GRU - O MALDISPOSTO

Gru ambiciona ser considerado o maior vilão do mundo e, para tal, traça um projecto arrojado: roubar a Lua! Com o apoio do seu exército de Mínimos, umas criaturinhas amarelas e um pouco trapalhonas, avança com o primeiro passo - apoderar-se de uma máquina de encolher - que lhe permitirá obter o crédito necessário junto do Banco do Mal. 
Contudo, Vector, que está colocado no Top + dos malfeitores, não está disposto a ceder o seu lugar e faz tudo para atrapalhar os seus planos. Por outro lado, Margo, Edith e Agnes, três meninas orfãs que anseiam ser adoptadas, também interferem nas megalómanas ambições de Gru...
Se não acharem piada ao trailer, talvez seja preferível ficarem em casa (a ver todos os noticiários televisivos, com longuíssimos discursos dos "nossos" políticos sobre o OGE, como gente adulta e séria) :


Resta acrescentar que não vi a versão 3D (que neste caso é capaz de ser interessante, principalmente numa viagem de montanha russa de feira) nem a original, "Gru - Despicable Me", mas a portuguesa, em que Nicolau Breyner e David Fonseca dão voz  a Gru e Vector, respectivamente. Convém salientar que, quando o filme acabou, a criançada bateu palmas! Com razão, porque é mesmo divertido...

Imagem de cena do filme da net.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

À MARTELADA...

... a arte também pode nascer! Foi o que provou Marcus Levine, um escultor de Yorkshire, quando reuniu alguns milhares de pregos, um painel de madeira branco e com um martelo (possivelmente mais) iniciou a sua laboriosa tarefa.

A altura e a distância a que os pregos são dispostos vai dando forma ao desenho que o autor pretende criar. O tema que prefere retratar é o corpo humano: feminino...

... masculino...

... ou até infantil! (este último é o que Marcus realiza na segunda imagem.)

Parece fácil - embora um trabalho de grande meticulosidade e paciência - mas não deve ser grande ideia experimentar em casa, que "magias" destas não são para todos. Embora haja pelo menos mais um albanês que também já fez uma obra do género, mas esse ficará para outro post (com um percurso bastante diferenciado)! Para leigos, os dedinhos certamente agradecem não entrar nestas aventuras...
E por falar em aventuras, tenham um

BOM FIM DE SEMANA!!!

Imagens recebidas por mail e da net.
(Obrigada, Gatinha!)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

DESNORTEADA?!?

Esta carripana pede ajuda, porque não sabe que rumo seguir. O percurso é de terra e cascalho, mas a direcção é uma incógnita. Assim, pede encarecidamente a todos os veículos imobilizados no trânsito - incluindo os mais modernaços, com GPS e tudo incluído - que lhe forneçam as coordenadas ou simples orientações: para a frente, para trás, para a esquerda ou para a direita?
Venham daí palpites...

Imagem do Facebook.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

EMAGRECIMENTO MILAGROSO?!

Há programas televisivos deveras interessantes, nomeadamente os que indicam um modo de vida mais saudável, com dietas ou regimes em que as pessoas mais obesas perdem peso sem passar fome. Boa ideia, não é?
Então lá aparece uma fotografia do homem de trinta e poucos anos no ANTES, com mais de 100 quilos, enquanto se entrevista o nutricionista famoso, que explica o que se deve comer tendo em vista esse tal emagrecimento milagroso. DEPOIS o jovem garboso entra em estúdio, irreconhecível e muito mais elegante, 4 meses após o início da dieta e 20 quilos mais magro. O público aplaude, frenético! E sim, que também fez exercício físico, que já consegue brincar com o filho pequeno, etc. e tal. A audiência está emocionada...
Mas como é que foi possível tal passe de magia? A historieta ainda se prolonga, com a força de vontade (ou não) dos clientes do nutricionista - assertivo em relação ao que as escolas e as cantinas escolares não devem pôr ao alcance da criançada, que só contribuem para a engorda prematura - mas a explicação para a eliminação das banhocas que o homem exibia anteriormente na cintura tardava em chegar. Mas chegou, com um blablablá empolado, burilado e codificado, em que a palavra lipoaspiração (ou método afim) nunca foi mencionada. E era o caso!
No dia em que cirurgia, dieta e exercício físico não resultarem em emagrecimento, é possível que se possa falar em milagre - ou trapaça do gordinho, que se empanturra às escondidas!  Até lá, nem por isso...

Imagem da net.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

INCENTIVOS...

A fotografia é antiga e não me lembro onde a encontrei (no baú cá de casa não foi!), mas achei que tinha imensa piada. Pessoalmente, ainda não descobri onde está o incentivo, mas aceitam-se sugestões...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

BEATLESMANIA

Ao longo dos anos, Abel Soares Rosa coleccionou os singles dos Beatles nas suas diferentes edições, a par de todos os artigos publicados em revistas, jornais, livros, etc., sobre a famosa banda.  Recentemente, e com a colaboração de outros amigos igualmente fãs, decidiu reunir esse material no livro "The Beatles Discografia Portuguesa a 45rpm", que apresentou ao público Sábado passado às 17h30m, no Clube de Golfe do Paço do Lumiar.
Antes da apresentação decorreu uma prova de vinhos da "Quinta Mendes Pereira" e, mesmo não sendo grande apreciadora, provei o vinho branco de aroma frutado. Duas vezes! Para me certificar que era bom... (os rosés e os tintos deixei para os verdadeiros connaisseurs!)

A sessão iniciou-se ao som dos Beatles (só podia), a tocar neste gira-discos, que relembrou a quase todos os presentes os primórdios da sua juventude musical. Este ainda funcionava...
Podendo parecer que não, a sala estava apinhada de gente e a apresentação continuou num ambiente informal e até um pouco acelerado (não deu para tirar nenhuma fotografia de jeito), a que se seguiram os autógrafos.

No final ainda houve mais música dos Beatles, tocada pelos Threatles (um grupo especialmente formado para a ocasião, de que André fez parte) com mais alegria e paixão do que vocação, mas igualmente cantarolada e gingada pelo público presente, entre alguns chistes e muitos aplausos. Momentos agradáveis de um entardecer... 

domingo, 17 de outubro de 2010

TELAS EM BRANCO

"Aqueles que amamos não morrem nunca. Apenas partem antes de nós."

Pintaste a Vida de todas as cores, amiga, mas lamento profundamente as muitas telas que deixaste em branco...
Até sempre, Isabelinha!

Imagem da net.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

SABORES DE OUTONO...

Todas as estações do ano têm os seus cheiros e sabores, os do Outono são definitivamente conjugados no verbo  das castanhas assadas, aliando aroma e paladar. Os vendedores estacionam as suas carretas nos locais de mais movimento, esperando que o fumo que paira no ar cative clientes saudosos destes  frutos outonais. Chocalham o recipiente de barro, onde elas estalam apelando a todos os sentidos de um povo em movimento, constantemente apressado e cada dia mais angustiado. Tudo isto é triste, tudo isto é fado?!
Esse mesmo povo que afirma que "tristezas não pagam dívidas", não pára para sentir, usufruir o instante ou pensar? Vida só temos uma, há que saber aproveitar o que tem de melhor!
Ontem provei as primeiras castanhas deste Outono, num momento de puro prazer. Souberam tão beeeeemm...
... e esta música também:


SABOREIEM!
(a vida, o outono, o fim de semana, as castanhas, a música, tudo o estiver ao vosso alcance...)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

SONHOS E PENAS

Fotografia de Ian Britton

A Arminda veio para Lisboa estudar aos 18 anos, deixando para trás as terras nortenhas que a viram nascer e a mãe que trabalhava no campo, enquanto o pai emigrara para França para dar um futuro melhor à sua família. Alegre e simpática, ciente que os  pais se sacrificavam para lhe oferecer melhores oportunidades que eles próprios tiveram, determinação e empenho não lhe faltavam. E imensos sonhos, como só os muitos jovens conseguem ter!
Apesar de não conhecer ninguém na capital, conseguiu alugar um quarto perto da Faculdade, fazia as suas refeições nas cantinas universitárias e até encontrou uma antiga colega de liceu a viver em condições idênticas, que a acompanhou naqueles primeiros dias. Um mar de rosas (embora a comida das cantinas não fosse lá essas coisas, na época)...
Como os sonhos às vezes se transformam em pesadelos, uma quinzena depois, a dona da casa onde se alojara "despejou-a" no meio da rua, alegando que ela fazia "olhinhos" ao seu companheiro. A ciumenta trintona nem lhe devolveu o montante da estada já paga e, assim, Arminda viu-se abandonada na cidade com a sua  maleta, sem dinheiro suficiente para pagar novo alojamento. Sem saber o que fazer, seguiu para a universidade, onde conseguiu que lhe guardassem a mala na sala da Associação de Estudantes. Esta não tinha solução para o seu caso, nem a amiga a podia ajudar. Assistiu às aulas alheada, enquanto tentava desesperadamente resolver o problema na sua cabeça. Ainda que de um modo vago, pensou que se se escondesse por lá ninguém iria notar. 
Nunca se sabe como os acasos acontecem, mas Olinda notou o seu nervosismo e, mesmo sendo uma colega tão recente, perguntou-lhe o motivo. Ela explicou. Decidida, declarou que "na rua não podes ficar!" Pediu que esperasse um momento, enquanto foi telefonar à mãe (não existiam telemóveis na altura). E voltou, de olhos brilhantes, assegurando que a sua mãe as ia buscar... Nos dois meses seguintes Arminda viveu na casa de ambas, que ainda a ajudaram a encontrar um lar condigno para se alojar.
Por muito tempo que passe, há histórias que nunca se esquecem. E esta, para mim, é uma delas, que a própria protagonista me contou emocionada, poucos anos depois...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

NOTICIAR OU SILENCIAR?

Todos sabemos que algumas notícias não devem ser divulgadas, pois corre-se o risco de surgirem logo de seguida uma série de macacos de imitação, para obterem os seus 5 minutos de fama (ou nem isso) originando um facto semelhante. Por exemplo, se alguém se suicida atirando-se da ponte X, surgindo a notícia nos media, logo aparecem outros a copiar o acto desesperado. Ou se uma escola fecha por ameaça de bomba - provavelmente ideia de um qualquer cábula que não estudou para o teste e para evitar o desaire - logo outras escolas recebem telefonemas idênticos e quase todas elas passariam mais tempo encerradas do que a cumprir a sua função. Até aqui, suponho que todos concordamos.
Mas o caso muda de figura, quando algumas circunstâncias do nosso dia a dia parecem ser deliberadamente ignoradas pelos meios de comunicação, que entretanto nos impingem todas as desgraças do planeta, discursos políticos ou económicos longos e fastidiosos - mas na longa linha dos poderosos, que os restantes são sistematicamente banidos do mapa -, bola, bola e mais bola, com os respectivos protagonistas a encherem o ecrã ou as páginas de trivialidades que pouco interessam, desde o que comeram ao almoço, ao quanto amam a nova namorada ou se quando eram pequeninos tinham o hábito de tirar macacos do nariz!
Assim, a censura, que não existe como tal, toma o nome de linha editorial, ao abrigo da qual tudo o que não  interessa revelar passa a não existir... Topam? E porque é que não interessa revelar? As razões são variadas, mas a primordial é velar pela segurança e bem-estar da população, que mantida na ignorância não terá ainda mais razões para se revoltar. Simultaneamente, também se cuidam dos próprios interesses, do bom nome de pessoas ou empresas, especialmente dos parceiros e amigalhaços administradores.
Quem disser que foi impedido de usar um transporte público devido a uma ameaça de bomba, que estava numa carruagem que incendiou, que participou numa manifestação de protesto, entre tantos outros "esquecimentos" noticiosos, arrisca-se a encontrar sorrisos trocistas e incrédulos pela frente! A mim, só me parece um déjá vu...

Imagem da net.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

COMER, ORAR, AMAR, EM FILME

O filme segue o livro de muito perto, e sobre esse já escrevi aqui. A minha opinião não difere da de então: é uma americanice pura! 
Julia Roberts é um trunfo no papel principal nesta película realizada por Ryan Murphy, onde Javier Bardem e Richard Jenkins também se destacam do restante elenco. Para lá do argumento fracote, poderiam ter sido explorados os fantásticos cenários de Itália, Índia e Indonésia (Bali) para, pelo menos, se destacar pela fotografia. Mas nem isso, esta resume-se ao banal "bonitinho", relegada para um plano secundaríssimo perante os dilemas existenciais e místicos de Liz!
Dito isto, é um filme leve, sem mortos, feridos (uma esfoladela na perna não conta!) ou explosões constantes, que alguns apreciarão... Pessoalmente, ia adormecendo na primeira parte, mas deixo aqui o trailer para quem quiser espreitar:


A segunda parte animou um bocadinho, com umas músicas brasileiras românticas e a tentativa do Javier (aka, Felipe)  falar português...
 
Imagem de cena do filme da net.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ADIVINHAM O QUE FALTOU NO JANTAR?

Segunda-feira, 11 de Outubro de 2010


ADIVINHAM O QUE FALTOU NO JANTAR?

A ideia era gira: um grupo de amigos reunia-se num jantar de convívio, constituído essencialmente por petiscos de presuntos, enchidos e queijos, mas também saladas de atum com tomate ou pimentos devidamente temperadas com azeite, carpaccio  de novilho (?) com maionese, lentilhas com carnes, tortilhas e sobremesas de fruta, numa ementa tipicamente espanhola, tudo regado com água, refrigerantes, cerveja ou sangria, ao gosto do freguês.  Em seguida haveria um espectáculo de flamenco, a combinar perfeitamente com o ambiente saleroso.

Ninguém desistiu, apesar do temporal que desabou em Lisboa (e não só) - os 22 convivas continuavam  apostados numa noite alegre e de sã camaradagem. Assim à primeira, ninguém entendeu o que faltava. O empregado satisfez o primeiro pedido, mas disse que não havia mais. Alguns protestaram, até porque a cena não era tão barata assim, num preço previamente estipulado.

As doses servidas demonstraram grandes desigualdades, na que calhou em rifa a mim e às minhas parceiras, supostamente para dividir por 4, só constava um pedaço de carne e meia dúzia de feijões, até brinquei que os podíamos contar antes da divisão. O que motivou segunda reclamação (e não, não fui eu, que passo bem sem lentilhas, feijões, ou lá o que pretendam chamar àquilo!), deu azo a que o gerente, patrão ou whatever viesse ao nosso encontro desembestado, a falar alto com o pessoal, "qué esto es para disfrutarlo"! Arrogante e malcriado, mas convencido da sua razão, mandou calar os clientes, porque não suportava gente mal-disposta! Topam a animação?

Um fulano cheio de sorte, porque há muitos que conheço que por menos pediam o livro de reclamações! Nem lhe aturavam metade dos dislates!
Agora, só falta adivinhar o que faltava inicialmente (entre várias outras coisas, que também falharam)...

*******
ADENDA a 12 de Outubro de 2010:
Pois, ninguém adivinhou, embora algumas amigas já soubessem através de um comentário que fiz no Facebook: faltaram PRATOS! Segundo o gerente espanhol, nos bares-tabernas de Espanha o objecto é absolutamente desnecessário, o pessoal come com garfos, colheres ou... palitos! E como estávamos em  "su casa" que era "su corazón", teríamos de nos adaptar (e engordurar) para "disfrutar"...
Ainda hoje me estou a rir com a lata do fulano, até porque prato que chegasse à mesa com comida já não voltava à cozinha, no final todos tínhamos pratos ou pires à frente, no célebre desenrascanço tuga.
Mas voltar lá... NUNCA MAIS!

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

NO BICO DOS LÁPIS

Dalton Ghetti nasceu no Brasil em 1961, mas cedo se radicou nos EUA, em Connecticut, onde trabalha como carpinteiro há cerca de 25 anos. Entre outros hobbies, dedica-se a esculpir figuras nos bicos de lápis.

Para obter o efeito desejado, utiliza uma lâmina de barbear, agulhas de costura e uma faca de esculpir.

Os temas que o inspiram são variados e passam pelas próprias ferramentas que usa diariamente na sua profissão, de parafusos a...

... serras...

... ou, por exemplo, objectos rotineiros.

Estas mini-esculturas demoram vários meses ou anos a executar, com toda a minúcia e preciosismo de um verdadeiro artista, sendo que as mais complicadas são aquelas que envolvem elos de ligação, como estas últimas, e as suas obras já foram expostas em museus da área onde reside. Consta que não as vende, embora as ofereça aos amigos...


Têm um lápis aí à mão? Então anotem este meu desejo:

BOM FIM DE SEMANA E DIVIRTAM-SE!

Fotos recebidas por mail.
(Obrigada, Su!)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

NOUTRA DIMENSÃO!

Parece anedota, mas não é: Margarida Rebelo Pinto escreveu uma crónica intitulada "As gordinhas e as outras", no semanário "Sol", onde critica veementemente um tipo de mulheres da nossa sociedade, altamente perigoso: as gordinhas!
Segundo ela, em todos os grupos masculinos há uma "gordinha" espertalhona, bem-disposta, amigona, maria-rapaz, que vai a todas as noitadas e profere palavrões em barda à medida que ingere copos (ou outras substâncias) em longas desbundas com eles, com o intuito premeditado de apanhar algum incauto na cama. E os gajos, por remorso ou pena da dita cuja, perdoam-lhes todos os comportamentos inusitados e pouco femininos, ainda aceitando as suas acusações maquiavélicas a mulheres lindas, esbeltas, elegantes, sedutoras e cultas (como ela se considera a si própria, note-se!). E estas, coitadas, nem percebem porque é que aqueles homens não se rendem aos seus pés perdidos de amor, desconfiam que a culpa é da "gordinha de serviço"...
Convenhamos que a "teoria" é sofisticada, com laivos do irrealismo de uma twilight zone. Reside algures num limbo onde falta um espelho. Ou a sensatez. Ou ambas as coisas! 
(se estiverem interessados em anedotas, podem ler a crónica aqui)

Imagem de quadro de Fernando Botero.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

TAMARA DREWE

Posy Simmonds publicou "Tamara Drewe" em vinhetas semanais  no jornal inglês "The Guardian", sendo estas posteriormente editadas em livro de BD. A história em si já é uma modernização de um romance do século XIX  de Thomas Hardy,  que agora foi adaptada ao cinema por Stephen Frears.
Numa aldeia rural inglesa, Nicholas Hardiment escreve livros policiais de sucesso, enquanto Beth, a sua mulher, o ajuda na tarefa e ainda aloja outros escritores que buscam o sossego e a inspiração nas bucólicas paisagens campestres. Enquanto isso, duas adolescentes em férias aborrecem-se mortalmente com a pacatez da aldeia, procurando animação nas páginas de revistas onde encontram as suas estrelas de rock favoritas. Mas quando a jornalista Tamara Drewe regressa à casa onde viveu com a sua mãe com intenção de a vender  - e o nariz que lhe valeu a alcunha de "pencuda" remodelado por uma cirurgia plástica - Andy, seu ex-namorado, e Nicholas (vaidoso, mentiroso e infiel todos os dias) vêem-na com outros olhos e interesse redobrado. Entretanto, Ben, o baterista pelo qual uma das adolescentes se apaixonou, dá um concerto nas redondezas e é entrevistado por Tamara, que inicia uma relação com o músico. Quem não se conforma é a jovem estudante, que faz tudo por tudo para acabar com o envolvimento dos casal...
Uma comédia ligeira e engraçada, mas que me pareceu muito longe dos rasgados elogios de alguns críticos, que se inclinam para que a película entre numa séria corrida aos Oscars do próximo ano. Apesar de considerar a fotografia brilhante. Segue o trailer, para os mais curiosos:


Gemma Arteton, Luke Evans, Roger Allam, Dominic Cooper, Tamsin Greig e Bill Camp são alguns dos protagonistas do filme,  pouco conhecidos do grande público, destacando-se este último no papel de Glen, um professor universitário com aspirações a escritor, mas com uma enorme falta de jeito para lidar com as mulheres...

Imagem de cena do filme da net.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O CENTENÁRIO DA REPÚBLICA

Ao longo dos cerca de 870 anos da História de Portugal subiram ao trono 34 monarcas e 18 presidentes da república, alguns destes ocupando o cargo apenas durante alguns dias ou meses. O rei D. Carlos e o presidente eleito Sidónio Pais foram assassinados por republicanos, num curto espaço de 10 anos, em nome de ideais surgidos no seguimento da revolução francesa: liberdade, igualdade, fraternidade! A que estavam inerentes o da separação do Estado da Igreja e até o delinear da democracia (só para alguns, poucos: homens, cultos e letrados e com um certo património). 
A I República portuguesa foi uma das épocas mais sinistras e sangrentas da nossa história, com golpes e revoluções constantes, a par de uma participação na I Guerra Mundial inglória, onde múltiplos soldados portugueses perderam a vida, por falta de preparação e equipamentos. Daí até à ditadura militar da II República foi um passo nem muito difícil de aceitar inicialmente, que o povo continuava miserável e analfabeto, mas a Igreja voltara em força prometendo o reino dos céus aos seus fiéis, o que, a par de um certo apaziguamento das lutas partidárias, acalmou os ânimos. Isso e uma polícia secreta, que calava todas as vozes dissonantes, através de todos os meios ao seu alcance: tortura, morte, prisão, desterro ou exclusão da sociedade. E se esses governantes evitaram o envio de tropas para a II Guerra Mundial, a evolução de mentalidades decorrente atravessou todos os cantos do mundo e em breve vários territórios reclamaram a sua independência. E aí, os ditadores já não se acanharam em enviar os "heróis do mar" marchar "contra os canhões", em guerras ou guerrilhas sem fim à vista...
O descontentamento generalizado deu frutos, numa madrugada de Abril outra revolução pôs cobro aos desmandos da ditadura e, com a III República, pela primeira vez, as palavras liberdade e democracia ganharam cor. Vermelha, como os cravos que a simbolizaram! Após um período conturbado, em que os carneiros usurparam a pele dos lobos em vinganças e retaliações nem sempre justas, a serenidade foi regressando, aos poucos. Mas, entretanto, o mundo não parou de girar, os tons vermelhos esmaeceram para rosas, laranjas ou até amarelos muito pálidos: às ditaduras políticas sucederam as económicas, que escravizam muito mais do que libertam!
A liberdade e a democracia estão hoje sujeitas a um capitalismo feroz, em que ninguém vota, e muito longe dos ideais de igualdade que nortearam a implantação da República! Muda pouco nos actuais sistemas monárquicos europeus: só não se pode votar no rei, mas cujo papel é semelhante ao do presidente português - encher as páginas de jornais de banalidades ou as de revistas cor de rosa de "famílias felizes" durante as férias!
Comemorar... só se for o feriado, que para o ano talvez desapareça do calendário!!!

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A MÚSICA TEM DIA(S)...

... em que nos enche o peito de serenidade e encanto, enquanto noutros desaparece ofuscada com gritos, lamentos e quezílias de políticos histéricos, que só nos oferecem uma justa indignação. Aqui na nossa "praça", como em quase todos os cantos do mundo...
A verdadeira  música é aquela que nos toca, envolve, fascina e comove em recordações do passado ou a marcar o presente, com melodias até ao momento desconhecidas, sendo também composta de pausas e silêncios entre acordes. E nunca, mas nunca mesmo, é igual para todos!
Daí que hoje a minha opção para celebrar o Dia Mundial da Música seja tão simples e antiga como este "som do silêncio", que só agradará a alguns:


BOM FIM DE SEMANA!
(...e vivam a música, ao ritmo do vosso coração!)
 
Imagem da net.